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Rejeitar a mediocridade

A política é uma das mais nobres actividades da vida em sociedade. Num sistema democrático, como o que vivemos, a organização da vida pública, a justa divisão de recursos e outros assuntos de interesse comum são geridos por alguns escolhidos que se propõem a realizar essa tarefa, e para isso se apresentam a escrutínio da vontade popular. Teoricamente, os representantes do povo seriam escolhidos entre aqueles que tivessem dado provas de boa gestão dos bens pessoais, capacidade de gerar consensos, discernimento perante as dificuldades, e a ousadia de propor projectos para melhorar as condições de vida de todos, a começar dos mais frágeis e débeis da sociedade.

Em virtude da nobreza da missão seria de esperar que os protagonistas tivessem uma postura moral e ética de acordo com a responsabilidade assumida. Mas, de facto, não existem sistemas perfeitos, e tudo o que é humano tem na sua génese a marca da sua fragilidade. Esta deficiência estrutural pode servir como justificação de alguns comportamentos daqueles que estão investidos de poder, mas não me parece razoável que tenhamos de os aceitar sem qualquer tipo de exigência ou consequência.

O nível do discurso político quando deixa ser debate de propostas, de ideias sobre a sociedade, de opções fundamentais para o futuro, e passa a ser uma lógica de interesses pessoais, de calculismos partidários e de discursos de suspeita sobre a integridade do outro, torna-se algo de pernicioso e deplorável. Acredito que como sociedade valorizamos a seriedade e a integridade e não queremos viver num clima de maledicência e desprezo dos valores humanos fundamentais.

O Orçamento de Estado é uma ferramenta fundamental para projectar o futuro do país porque reflecte as opções prioritárias daqueles que nos governam nas áreas decisivas da vida em sociedade. Aos governantes compete apresentar aquelas que são as melhores formas de aplicar as receitas do Estado e outros recursos disponíveis para bem de todos. É certo que, no quadro da União Europeia em que nos encontramos, este tem várias condicionantes de acordo com as políticas comuns, mas não deixa de ser uma discussão importantíssima do interesse de todos, e se não houver possibilidade de consensos que se encontre a solução que respeite a vontade da maioria. E isso só é possível se os que nos representam pensem mais no bem dos seus concidadãos do que em fazer jogos de bastidores, rejeitem a mediocridade como critério, e usem do seu protagonismo sem perdas de tempo e desvio de recursos daquilo que é verdadeiramente importante.

Ao longo da história da Igreja foram vários os momentos de crise em que o mal parecia triunfar na existência do homem, mesmo do que vivia pela fé. Nesses momentos o Senhor fez surgir homens e mulheres como instrumentos da sua graça e do seu poder para responder aos males de cada tempo. Santa Margarida Maria Alacoque, que se celebra neste dia 16 de Outubro, é um exemplo belíssimo. Uma monja que aprendeu a ciência do Amor divino muito mais valiosa para a vida dos homens do que qualquer novidade do Renascimento. A redescoberta na Igreja da importância do Sagrado Coração de Jesus foi a resposta da santidade a um mundo que queria expulsar Deus da existência do homem.

Também hoje é necessário que não nos resignemos à mediocridade, a uma mentalidade de mesquinhez, a esta desfiguração constante da nossa humanidade, e tenhamos a ousadia da diferença e da valorização do que realmente nos interessa por que nos faz bem a nós e aos outros. O Evangelho, sobretudo, a versão de S. Lucas (que celebramos a 18 de Outubro), ensina-nos que não há misericórdia sem justiça. O Amor de Deus pelo fraco implica sempre a libertação do escravo do mal que o destrói e aniquila. A justiça da cruz é dar morte à morte para que o homem prisioneiro do pecado possa ser salvo pelo poder do Amor.

Supliquemos a intercessão da Virgem Maria porque como ela disse aos Pastorinhos: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!”. Não se trata de vitórias políticas, mas da experiência maravilhosa do que Amor de Deus pode fazer em nós. Basta que como ela aprendamos a dizer o “sim” que vence todos os medos e dúvidas.

Pe. Ricardo Franco
Edição 1377 - 18 de Outubro de 2024